Hoje trago-vos um tema muito caro para mim - o da Casa. E perguntam-me vocês porquê, não é?
Bem... começo por partilhar onde me posiciono quando falo de casa. Eu vejo a casa como lugar simbólico e real. Um espaço íntimo e muito pessoal. Casa como casulo. Casa como espaço habitado e perfumado com a energia do nosso ser e que nos protege do exterior. Casa onde vivemos e que partilhamos com quem mais gostamos. Casa que é o nosso corpo também aqui nesta vida. Casa que é a própria Terra. Mas será que esta visão é partilhada por ti? O que sentes no corpo quando falo sobre casa?
Ao aprofundar os conhecimentos sobre o impacto de um sistema nervoso regulado sobre o bem-estar, surgiu o tema da "casa". E isso conduziu-me a uma reflexão importante sobre a relatividade e subjectividade das palavras no universo pessoal de cada um. E senti de o trazer aqui pois a Casa é um dos pilares da visão de base que tenho no trabalho do Corpo Ser.
Então voltando ao sistema nervoso, um dos desequilíbrios mais frequentes hoje em dia é o de não conseguirmos entrar em verdadeiro modo de relaxamento do corpo, pois estamos sempre com o sistema simpático activo e em tensão permanente, seja pelos demasiados estímulos exteriores, seja pelo stress do dia-a-dia ou seja sobretudo pelos traumas que trazemos do passado e das nossas relações. E aqui chegados, voltamos à palavra casa. Voltamos ao corpo. E, efectivamente, para muitos de nós, a casa não é ou não foi um lugar seguro, protegido e onde gostamos de estar. Para muitos de nós, o corpo também não é um espaço onde nos sentimos bem. Esta é uma realidade e um sentir que despoleta respostas imediatas do sistema nervoso que reage em sobrevivência face a um perigo para nos proteger. Porque a casa pode até não ter existido. E o habitar do corpo pode ter sido uma experiência violenta.
Chegados aqui, sugiro que respiremos fundo por momentos.
Posso partilhar que a vivência interior de corpo-casa também não foi a minha realidade a maior parte da minha vida. Muito pelo contrário, acho que passei grande parte do tempo à procura do meu lugar, das minhas raízes, muitas vezes fora de mim por ser mais fácil e seguro. E certamente também não habitei realmente o meu corpo, que ignorei literalmente ao longo de anos e anos por razões várias.
Agora percebo o porquê do corpo no meu processo de resgate pessoal ter sido fundamental, enquanto pessoa que buscava na espiritualidade um sentido para a existência mas que não a conseguia vivênciar na matéria. E nós estamos aqui com um corpo físico por algum motivo certo?
Então quando trabalhamos de forma séria o corpo, estas são questões fulcrais a ter em atenção e que não estão visíveis ao olhar. Tendo todo este icebergue em consideração posso afirmar que escolho continuar a ter como base no meu trabalho o corpo como casa e terra de sustento do Ser, mesmo que no momento actual isso possa não ser percebido como verdade acessível para quem me lê. Mesmo que pareça impossível lá chegar. Este é um caminho. Um resgate. Um redireccionar da atenção para dentro. Devagarinho, à medida e no tempo certo de cada um. Recordando que simbolicamente para construir uma casa, limpamos terreno, escavamos e criamos os alicerces para só depois começar a construir algo. Esta Casa, não precisa ser construída porque já lá está para nós sempre, mas precisa ser recuperada, recordada. Esquecemo-nos disso, esquecemo-nos do caminho para a voltar a encontrar. Então precisamos desbravar terreno e escavar os nossos universos internos. E talvez alinhar os alicerces das nossas âncoras com a verdade que pulsa nos nossos corações. Porque assim que o fizermos, estamos em casa, que é dentro de nós.
Abraço-vos,
Rita
Commentaires