Terra em Ti surgiu como forma de honrar o Corpo - este Templo sagrado que é a nossa casa no aqui e agora. Esta matéria física que nos compõe e que associamos a quem somos mas à qual não estamos limitados. Esta parte de nós mais visível mas também a invisível e que muitas vezes desleixamos. Este espaço uterino de criação e manifestação do Ser neste mundo. Sob este prisma, o corpo é o ponto de partida, cuja sabedoria nos aproxima da chispa de quem somos, cuja verdade despe poeiras e véus, não porque contenha em si tudo o que somos, mas porque é a partir dele que damos vida e refinamos com as nossas escolhas o potencial de Ser neste plano.
Terra em Ti surge da urgência de habitar o Corpo, de cuidar da nossa casa interior, de prestar atenção às suas palavras, de pausar e seguir o fluxo interno mais subtil e sensível que nos guia rumo ao despertar. Neste corpo que moldamos como barro, que ancoramos como uma grande árvore, através do qual manifestamos as nossas acções, partilhamos o nosso sentir e as nossas emoções e expressamos o que pensamentos, este é o nosso bote onde navegamos no mar. Seremos apenas o bote? Não. Mas é o bote que nos permite velejar e experienciar na matéria o grande oceano.
Dando atenção ao bote, assim como aos ventos e marés, estaremos no momento presente, aptos a tomar as melhores decisões e com o barco fortalecido para o que vier. Desatentos ás condições do nosso barco e aos movimentos exteriores podemos enfrentar desafios maiores.
Quantas e quantas vezes o corpo é tratado como um veículo que nos serve, como uma mera coisa superficial que tentamos alterar conforme as tendências exteriores e queremos a todo o custo ocultar que vai envelhecendo. Quantas e quantas vezes o deixamos para segundo plano sem lhe dar qualquer atenção, comendo mal, tendo um estilo de vida sedentário ou correndo de um lado para o outro em stress? Quantas e quantas vezes não prestamos atenção aos seus sinais de alerta? Cansaço, alergias, dores nas costas, mal-estar, insónias… A lista pode ser enorme. Quantas vezes foi preciso chegar ao limite para realmente parar de olhar fora e cuidar de nós?
Queixamo-nos da vida e dos infortúnios que nos surgem quando continuamos sem dar atenção ao essencial . Culpamos meio mundo e fechamo-nos esquecendo de respirar e de olhar com amor para nós mesmos. Da minha experiência, a verdadeira mudança começa quando damos atenção à sabedoria interna: escutando o corpo a cada momento, respeitando o sentir, pausando e aprendendo a nutrir-nos - a cuidar do que comemos e bebemos, assim como criando rotinas de movimento corporal saudáveis que ajudam a manter o corpo fisico em forma. Ás vezes, basta respirar!
Não é preciso mover montanhas nem seguir processos altamente complexos. Não é preciso ir para um mosteiro ou alterar radicalmente de vida. Basta um primeiro passo. Basta o compromisso contigo com coisas simples como a atenção plena ao respirar todos os dias, a aproximação da natureza e a contemplação da sua beleza, o caminhar consciente diário, a atenção aos alimentos que ingeres, a auto-massagem corporal regular consciente e amorosa…Existem um sem número de coisas simples que podemos incluir nas rotinas da nossa vida e fazer por nós. Basta querer. Somos responsáveis por isso mesmo. E é chegado o tempo de honrar o Corpo-Ser e colocarmo-nos como prioridade para que o nosso bem seja o bem de todos.
Ontem um Ser que muitos ensinamentos trouxe ao mundo e também à minha vida deixou este plano - Thich Nhat Hahn. Um homem simples, de palavras sábias e profundas, que deixa um legado imenso no serviço do bem e da paz da humanidade.
Partilho convosco as suas palavras sobre o tema do corpo:
“O corpo é uma obra prima do cosmos. O corpo transporta em si as estrelas, a lua, o universo e a presença de todos os nossos antepassados. Quantos milhões de anos de evolução foram necessários para dar origem a estes fabulosos dois olhos, pernas, pés e mãos? Inúmeras formas de vida estão a sustentar a nossa existência neste momento. Religar-se com o seu corpo físico requer apenas alguns momentos de paragem e de respiração atenta. Todos temos tempo para isso e, no entanto, não o fazemos. É estranho estarmos assustados com o que acontece ao nosso corpo físico quando morremos e,no entanto, não estamos a apreciar verdadeiramente esse corpo físico enquanto estamos vivos.
Respirando em atenção plena, simplesmente, aprecie a sua inspiração e a sua expiração. Traga a mente de regresso a casa, ao corpo, e aperceba-se de que está vivo, ainda vivo, e de que isso é uma maravilha. Estar vivo é o maior de todos os milagres. “
Chegou o momento de começar a integrar aquilo que pensamos, com aquilo que sentimos e aquilo que fazemos aproximando-nos assim cada vez mais do Corpo Unificado, aquele que desperta para uma consciência superior de si, do outro, da Humanidade.
O teu Corpo, a tua Terra, a tua Casa.
Com amor,
Rita
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