Seguindo a nossa herança cartesiana continuamos a tentar compreender o que nos rodeia e a nós mesmos numa lógica separatista, procurando analisar detalhadamente cada parte na esperança de assim compreender o Todo. Mas essa lente é manifestamente insuficiente e limitadora.
Ontem ao falar sobre este tema, uma pessoa fez uma analogia culinária que me inspirou a fazer esta partilha: o processo de fazer Pão. Com a nossa lente racional, bastar-nos-ia somar os ingredientes para chegar a conhecer o resultado final, o pão. Mas será que se comermos água e farinha separadamente estamos a comer pão?
Se pensarmos nisso concluímos que não, pois o pão é mais do que a soma dos seus ingredientes. É resultado da transformação desses ingredientes num determinado ambiente e condições. Pelo que a mera observação dos seus ingredientes não nos permite alcançar o essencial.
O mesmo acontece connosco e com toda a teia que nos rodeia. Muitas vezes esforçamo-nos por separar e compartimentar as nossas partes ou aspectos ou papéis para assim compreender quem somos. E nesse esforço chega um momento em que percebemos que continua a faltar algo. Porque é assim? O que falta? Para nos aproximarmos da resposta precisamos afastar-nos da lente racional e lógica, largar o 1+1 são 2, e abraçar uma lente invisível e multidimensional, cujo resultado pode conduzir ao 3.
Na prática do dia-a-dia este é um grande desafio porque a mente racional está no comando desde que nascemos. Deixar o objectivo, o visível, o quadrado, para entrar no universo do invisível, no indizível e no fluxo livre inter-dependente é uma das maiores aventuras do percurso do auto-conhecimento e consciência – largar a nossa âncora segura para ver com novo olhar o mundo das nossas relações, começando connosco mesmos. Permitir que o Sentir imerja e ocupe o seu lugar no comando. Resignificar quem somos segundo uma lente ampliada ainda desconhecida ou pouco familiar que nos religa ao Cosmos, mas que vai ficando mais nítida aos poucos com a prática.
Encontrar a soma das partes é, assim, aproximarmo-nos cada vez mais da Unidade do Eu Sou. Um passo de cada vez. Cada dia mais perto. Cada sopro. Cada vida.
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